Essa receita é onde tudo começou. Foi a primeira receita que aprendi e carrega muito simbolismo para mim e minha família. Acredito que seja o auge da "cozinha pobre", já que a massa é preparada com farinha, água e sal - e só.
O Scotta Gatti, ou Gatos Escaldados, era a única fonte de alimento dos meus "nonnos" durante a guerra. Em meio à extrema pobreza, eles tinham um pouco de farinha, água e, às vezes, uma pitada de sal.
A receita leva esse nome porque a região do Veneto foi bastante pobre por muitos séculos, e os venezianos eram conhecidos como "magnagatti" ou "mangia gatti", os comedores de gato. Historicamente sabe-se que a população pobre comia gato mesmo, mas a expressão acabou sendo utilizada como uma brincadeira para tudo aquilo que matava a fome, era barato e tinha origem questionável.
O molho era a própria água quente do cozimento ou qualquer outra coisa que tivesse sobrado à mesa, que aliás nem sequer existia. Eles se aqueciam dentro de um estábulo, junto das vacas e ovelhas, para suportar as temperaturas baixas da região, ao pé das Dolomitas. Gastronomicamente a receita é a mesma do Spaetzle, comida germânica típica do Sul do Tirol, Áustria.
Meus "nonnos" comeram Scotta Gatti a vida toda, mesmo depois da guerra e chegada ao Brasil; obviamente as condições melhoraram um pouco, e a receita ficou mais "incrementada", com um sugo de tomates, um ragu de calabresa ou creme de queijo gorgonzolla. O importante era o simbolismo, mas sem ressentimento algum; tudo era feito contando-se piadas e falando mal dos parentes.
Receita para 4 pessoas:
- 400 g. de farinha de trigo;
- água morna;
- uma pita de sal;
Coloque a farinha e o sal em uma tigela; adicione água morna aos poucos, mexendo sempre com as pontas dos dedos até que pequenas bolinhas de massa comecem a se formar; continue esfregando os dedos até que pequenos "macarrõezinhos" se formem. Não se preocupe com a regularidade e forma. Faça isso com toda a massa, inclusive aqueles pedaços que ficarem presos entre os dedos.
À medida que os pedaços de massa forem feitos, adicione-os em água fervente com um punhado de sal grosso. O ponto correto é quando estiverem boiando - estarão cozidos.
Adicione a massa a uma panela maior, com um pouco da água do cozimento e adicione em seguida o molho que sobrou de alguma outra receita.
No nosso caso é a sobra do molho de creme de leite com gorgonzolla, da receita do Cappelletti de presunto de Parma com compota de figo ( http://cozinhadoquarta.blogspot.com.br/2014/12/cappelletti-de-presunto-de-parma-e.html ).
Aqueça bem, misture a massa com a sobra do molho, e pronto. Particularmente adoro ralar bastante pimenta do reino sobre o prato; fica ainda melhor.
Bom apetite.
O Scotta Gatti, ou Gatos Escaldados, era a única fonte de alimento dos meus "nonnos" durante a guerra. Em meio à extrema pobreza, eles tinham um pouco de farinha, água e, às vezes, uma pitada de sal.
A receita leva esse nome porque a região do Veneto foi bastante pobre por muitos séculos, e os venezianos eram conhecidos como "magnagatti" ou "mangia gatti", os comedores de gato. Historicamente sabe-se que a população pobre comia gato mesmo, mas a expressão acabou sendo utilizada como uma brincadeira para tudo aquilo que matava a fome, era barato e tinha origem questionável.
O molho era a própria água quente do cozimento ou qualquer outra coisa que tivesse sobrado à mesa, que aliás nem sequer existia. Eles se aqueciam dentro de um estábulo, junto das vacas e ovelhas, para suportar as temperaturas baixas da região, ao pé das Dolomitas. Gastronomicamente a receita é a mesma do Spaetzle, comida germânica típica do Sul do Tirol, Áustria.
Meus "nonnos" comeram Scotta Gatti a vida toda, mesmo depois da guerra e chegada ao Brasil; obviamente as condições melhoraram um pouco, e a receita ficou mais "incrementada", com um sugo de tomates, um ragu de calabresa ou creme de queijo gorgonzolla. O importante era o simbolismo, mas sem ressentimento algum; tudo era feito contando-se piadas e falando mal dos parentes.
Receita para 4 pessoas:
- 400 g. de farinha de trigo;
- água morna;
- uma pita de sal;
Coloque a farinha e o sal em uma tigela; adicione água morna aos poucos, mexendo sempre com as pontas dos dedos até que pequenas bolinhas de massa comecem a se formar; continue esfregando os dedos até que pequenos "macarrõezinhos" se formem. Não se preocupe com a regularidade e forma. Faça isso com toda a massa, inclusive aqueles pedaços que ficarem presos entre os dedos.
À medida que os pedaços de massa forem feitos, adicione-os em água fervente com um punhado de sal grosso. O ponto correto é quando estiverem boiando - estarão cozidos.
Adicione a massa a uma panela maior, com um pouco da água do cozimento e adicione em seguida o molho que sobrou de alguma outra receita.
No nosso caso é a sobra do molho de creme de leite com gorgonzolla, da receita do Cappelletti de presunto de Parma com compota de figo ( http://cozinhadoquarta.blogspot.com.br/2014/12/cappelletti-de-presunto-de-parma-e.html ).
Aqueça bem, misture a massa com a sobra do molho, e pronto. Particularmente adoro ralar bastante pimenta do reino sobre o prato; fica ainda melhor.
Bom apetite.
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