Com o fim da Idade Média, as criações de animais em cativeiro tiveram franco crescimento, e a primeira conotação, a da subsistência, ficou um pouco esquecida, dando à carne de caça status àquele que a consumia. Na verdade, o homem moderno ficou bastante distante desse tipo de alimentação, que é saudável, com baixa gordura e níveis praticamente zero de colesterol.
Poucos lugares mantiveram a tradição desse consumo, quase sempre ligado a datas especiais e comemorações; na Itália atual, um cidadão comum consome carne de caça, pelo menos, três vezes ao ano. Eles dedicam atenção especial à codorna, faisão, pato, coelho e ao tão amado javali; com raríssima oportunidade consomem corça ou animais maiores, e são proibidos por lei de consumir pequenos pássaros, tradicionalmente presentes na culinária de algumas regiões.
A carne de caça é naturalmente magra e mais adocicada, graças à alimentação desses animais, que é à base de bagas, frutas, e ervas; normalmente as marinadas e macerações são necessárias para amolecer um pouco a carne, e é necessário treinar um pouco o paladar, que hoje é basicamente orientado para o frango, boi e porco.
Isso não significa que cada um de nós vai comprar um espingarda e se embrenhar no meio do mato em busca de carne; aquele que respeita os animais e as leis de seu país, sabe onde comprar carne regulamentada, vinda de produtores credenciados e que respeitam a natureza, desde a alimentação até o abate. Compre carne de caça somente de estabelecimentos confiáveis, com autorização do IBAMA e que seguem as leis; é somente dessa maneira que garantiremos esse alimentação saudável aos nossos filhos e netos.
Prepare-se, portanto, para uma aproximação de um mundo mais rústico, mais básico; sinta como a carne de caça pode te transportar até esse momento esquecido em algum lugar no tempo, de um homem mais próximo de suas origens. E se é selvagem....que permaneça selvagem.
Assim que todos os pedaços estiverem dourados dos dois lados, retire a carne da panela e reserve; mantenha o azeite e o suco da carne dentro da panela - essa será a base para o preparo do ragu.
Na mesma panela onde você preparou a carne, adicione um pouco mais de azeite, e sob fogo médio, frite a cebola, o alho, a pancetta e o salsão. Depois de uns 5 minutos, a mistura estará bem refogada. Nesse momento adicione o tomate, a cenoura ralada, o molho de tomate, o vinho tinto e acomode cuidadosamente cada pedaço de carne dentro da panela; ponha o bouquet garni sobre essa mistura, tampe a panela, e sob fogo bem baixo (mínimo) aguarde 2 horas.
Mexa de vez em quando, e assegure-se de que a mistura não está muito seca; caso esteja, adicione um pouco de água. Depois de duas horas sob fogo baixo, remova a carne cuidadosamente de dentro da panela e desfie - é muito provável que ela se desgrude naturalmente do osso e da cartilagem; de qualquer forma desfie com o auxílio de um garfo. Ponha toda a carne desfiada dentro da panela, misture bem e adicione um bom punhado de alcaparras.
Em uma panela com água fervente, adicione um punhado de sal grosso, óleo, e 800 g. de Pappardelle, por aproximadamente 8 minutos. Escorra a pasta, acomode-a em um prato fundo e cubra com o ragu. Nada de prato raso - é prato fundo mesmo !!
Para acompanhar sugiro alguns vinhos interessantes: pode ser um tinto feito de Sangiovese, como o San Biagio Azienda Lisini, ou um Pinot Noir Maicas del Limari....na dúvida beba os dois.
Esse almoço foi feito para: Lily, Steve, Sandra, Felipão e Gi Rodini.